quarta-feira, 18 de novembro de 2015

[leituras] Lágrima

Título: Lágrima
Autor: André Pereira
Páginas: 199
Ano: 2015

Era muito, muito difícil de pegar neste livro se não conhecesse o autor. Vem da Chiado, Embora tenha uma capa que se destaca não seria pelo título, pelas cores ou pelo aspecto que iria lá. De todo.

Mas fui à apresentação deste livro e desde aí que andava bastante curiosa para o ler. 

A história é apresentada por um início brilhante que nos cativa e deixa logo animados para perceber o que vai sair dali. Um casal a quem morre o filho. A mãe chora. O pai ri. A premissa está dada e é suficiente para nos fazer pegar no livro.

A maneira como ambos os pais lidam com a perda de um filho, tanto no conflito interno que têm, como no conflito com os terceiros que obrigatoriamente se juntam à volta, é interessante e é explorada de uma forma realmente bem pensada e psicologicamente profunda, se lermos com real empenho.

Foi muito curioso de ver as voltas que podem ser dadas neste assunto, a maneira como um pai coveiro enterra o filho entre gargalhadas. É uma ideia tão estranha e ao mesmo tempo tão natural e autêntica.

Enfim, a história convenceu-me, e não se ficou por uma premissa boa: há um bom desenvolvimento ao longo do livro que nos vai realmente mantendo agarrados à leitura.

Com este livro só tive um problema: a escrita! E nem foi com tudo, foi num ponto muito específico que me chateou. A maneira de descrever situações e emoções e de desenrolar uma história é boa, muito boa até, uma escrita limpinha que sabe bem de acompanhar. Não é uma coisa banal nem é uma coisa estranha, segue mais uma linha de pensamento do que de oralidade ou escrita. E isso é uma coisa que encontro pouco, e tenho pena. Mas depois há um esforço muito vincado de introduzir uma parte mais "literária" que me chateou. Principalmente na primeira parte do livro, depois a coisa acalma e ainda bem!

Mas estar a ler uma parte qualquer e ser atirada completamente para fora da história porque se faz um parêntesis inútil, ou uma metáfora forçada... Isso não, isso não torna o livro melhor, só o piora. A leitura não consegue ser feita de forma natural, não nos conseguimos embrenhar no livro porque recorrentemente estão-nos a tirar para fora dele. Segue os intelectualismos que tanto estão na moda e que não consigo perceber o porquê. 

Uma história bem contada não precisa dessas coisas. E uma escrita literária tem-nas, mas de forma fluída e dentro da história, não numa clara introdução de palavras fora da linha que estava a ser seguida porque ali dava para fazer aquele trocadilho, ou para fazer a metáfora X. 

Isso entristeceu-me porque num livro com tanto potencial, com uma história boa e uma escrita impecável que realmente dá gosto a ler não é preciso esse tipo de coisas. Espero isso num autor mau ou até mediano que quer ver se salva a honra do convento com alguma coisa que tenha à mão; não o espero aqui.

Agora, há aqui claramente muita margem de manobra para os próximos livros serem espectaculares. Ainda tenho de ler o primeiro - que só peguei de fugida - e os próximos hão-de aparecer! E ser lidos, com todo o gosto! 

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